O incentivo ao desenvolvimento de pesquisa e inovação ajuda a combater o problema pela raiz, ao permitir aumentar a competitividade da nossa indústria
por Mario Guitti *
O novo regime automotivo divulgado recentemente pelo Governo Federal vai proporcionar aumento da quantidade de autopeças nacionais nos modelos comercializados no Brasil. Este é o tipo de boa notícia que precisamos ouvir com mais frequência. Há, porém, uma informação em meio a todo este processo que considero mais interessante: o incentivo ao investimento em pesquisa e inovação.
Simplesmente fabricar autopeças a partir de um projeto que já vem pronto pode se tornar uma ação puramente comercial e econômica, e pouco sustentável. Mas, incentivar o desenvolvimento de tecnologia e inovação demonstra avanço. Ainda somos um país que exporta muita “commodity” e importa manufaturado, e se queremos manter a quarta posição no ranking dos maiores mercados mundiais de automóveis, precisamos reverter este quadro.
O aumento de compra de manufaturados no setor automotivo está ligado, principalmente, a oportunidades econômicas causadas pelo câmbio e grande oferta de produtos por preços atraentes, mas também é resultado do “custo Brasil” e da falta de competitividade oriunda da desatualização tecnológica da nossa indústria. Neste ritmo, fica clara a ideia de desindustrialização do nosso parque fabril, e incentivar a compra de mais componentes nacionais é uma medida válida e que resolve uma parte do problema.
O incentivo ao desenvolvimento de pesquisa e inovação ajuda a combater o problema pela raiz, ao permitir aumentar a competitividade da nossa indústria. É neste ponto que nós, do IQA – Instituto da Qualidade Automotiva, também trabalhamos quando abordamos a necessidade maior de produtos, sistemas e serviços certificados.
Nos mais de 15 anos de fundação do IQA, nos dedicamos em tempo integral para o aprimoramento da indústria automotiva brasileira, para que se torne competitiva, com qualidade acima de qualquer suspeita, em um mercado saudável e sustentável. Estes anos à frente da instituição, trabalhamos muito as parceiras internacionais e hoje, por exemplo somos os representantes oficiais no Brasil e Argentina da VDA/QMC, para ministrar cursos e distribuir os manuais técnicos, que acabaram de ser atualizados. Assim, em breve estarão disponíveis. A VDA 6.3, importante referência para cadeia produtiva de montadoras alemãs, já pode ser adquirida desde 10/2011 em português as novas edições dos manuais VDA 1, VDA 6.1 e VDA 6.5.
Para investir em pesquisa e inovação a indústria precisa começar pelo básico, que é ter processos e sistemas com qualidade assegurada. Dificilmente há inovação em locais onde os produtos saem defeituosos, sem engenharia, pois o princípio da inovação é a observação, a criatividade, o estudo. Temos como exemplo a seguir o da Coréia do Sul, que em menos de 15 anos se tornou um grande exportador de automóveis, inclusive para o Brasil.
O segredo deles foi incentivar o estudo, a formação de técnicos e engenheiros assim como o desenvolvimento tecnológico, para conseguir distribuir seus produtos para o resto do mundo. A nosso favor, contamos com um enorme mercado interno que está disposto a pagar o preço justo da tecnologia.
Está na hora de tirar do papel os projetos e planos de desenvolvimento da indústria automotiva brasileira, a criação de laboratórios comuns para todo setor, em um esforço entre academia, setor produtivo e governo.
Estamos otimistas com esta nova realidade, apesar do incômodo da alteração das regras em pleno jogo, mas esperamos sempre o melhor, que é trazer ao país e aos brasileiros uma realidade melhor, quando o assunto é automóvel. Somos importante para o mundo e para permanecer assim temos de desenvolver nossas competências ao ponto de não precisar quase sempre do resto do mundo para nos mantermos no topo.
* Mario Guitti é superintendente do IQA - Instituto da Qualidade Automotiva
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