segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A proposta da Fiat para desenvolver alta tecnologia no Brasil




Diretor de qualidade propõe a criação de centros independentes

por Paulo Ricardo Braga, AB


Windson Vieira Paz (foto), diretor de qualidade da Fiat Automóveis, esteve recentemente com representantes do Ministério do Desenvolvimento (MDIC) e fez sugestões que poderiam muito bem ter sido incluídas entre as prioridades do Plano Brasil Maior, que o governo anunciou nesta terça-feira, 2 de agosto. A proposta dele, revelada a Automotive Business, é a estruturação de centros de alta tecnologia, com autonomia para criar soluções inovadoras na área automotiva. Não seria um instituto bancado por montadoras ou empresas de autopeças, mas independente.

"Os laboratórios do Inmetro em Xerém, Duque de Caxias (RJ), são exemplo de excelência a ser seguido. Mas precisamos de mais, muito mais", disse o engenheiro, lembrando que a China investe em sete centros, semelhantes aos que ele propõe para tornar disponíveis conhecimentos de interesse nacional. Seria um caminho seguro para avançar em nanotecnologia e eletrônica embarcada, por exemplo, que dificilmente vão receber aportes diretos de montadoras locais.

Mostrando-se desapontado com os rumos da educação no País, ele volta ao exemplo da China para falar sobre capacitação profissional e da Universidade Fudan, em Xangai, que abre as portas para estudantes estrangeiros fazerem MBA, dentro de padrões de uma Harvard ou Kellogs University. A diferença fundamental é o custo, da ordem de US$ 20 mil. As similares norte-americanas ou instituições brasileiras de ponta cobram cinco a sete vezes mais; valores razoáveis são oferecidos apenas em programas corporativos.

Ascensão da qualidade

Responsável também pelas iniciativas de sustentabilidade na Fiat Automóveis, Windson recebeu a tarefa de consolidar as atividades da qualidade, dispersas na empresa até 2004. "Nossos padrões deram um salto a partir do projeto do Palio, que foi um divisor de águas", diz o executivo, que elogia a visão sistêmica da montadora sobre inovação e qualidade presente nas formulações estratégicas.

A ascensão da qualidade ao rol das prioridades em processos e produção invadiu, também, as relações com os fornecedores. "Qualidade passou a ser uma exigência, não só um compromisso", define o diretor. Os conceitos estão presentes hoje em todas as esferas da operação, irradiando de forma transversal. Como injeção na veia, eles se espalham à base da cadeia de suprimentos e, no outro extremo, aos concessionários.

"O próprio Belini tem dado o tom de nosso trabalho na área de qualidade. Ele traz a experiência de trabalhar em diferentes áreas da cadeia de produção. Compreende as dificuldades e limitações do fornecedor. Na área comercial, conheceu a visão de qualidade do cliente e dos profissionais de pós-venda." Paz lembra que a agenda apertada do presidente leva ao teste de veículos até nos fins de semana.

E como entender o aumento dos recalls? Para o especialista em qualidade, nem sempre é possível culpar a velocidade da linha de montagem pelos problemas que têm surgido: acelerar leva a um estado de prontidão e repetição que pode ser favorável ao acabamento da manufatura. Ele admite, por outro lado, que há dificuldade para controlar a crescente complexidade dos veículos, especialmente com a introdução exponencial da eletrônica.

"Aqui na Fiat nunca chegamos de fato a trabalhar com ênfase total no mundo virtual, embora às vezes se tenha essa impressão. Há outras empresas à nossa frente, mas todos voltam a valorizar os testes físicos, a engenharia experimental, atividade forte para nós", esclarece.

Windson participa ativamente das reuniões no Instituto da Qualidade Automotiva (IQA) (N. do blog: Windson é atualmente membro do conselho diretor do IQA, eleito para a gestão 2011 - 2013), que considera fórum propício para discussão de questões que afligem o setor. Ele reconhece que há uma variedade muito grande de normas e seria proveitoso padronizar especificações e regras para certificação. "De um lado estão os manuais europeus. Do outro os norte-americanos. A Ásia parece estar escolhendo o que há de melhor nas duas cartilhas. Aqui tivemos tentativas de afunilar as regras, mas acabam proliferando os requisitos específicos de cada marca."

O especialista em qualidade pondera que o País carece de centros de desenvolvimento para alimentar a inovação no setor automotivo. Assim, ficamos presos a algumas escolhas em que levamos vantagem evidente, como é o caso do flex, do etanol e outros biocombustíveis.

(publicado originalmente na revista Automotive Business, agosto de 2011, ano 3, nº 10)

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