Diante da crise econômica mundial, vemos, quase que diariamente, empresas anunciarem milhares de demissões. A avalanche que começou ano passado, parece ainda descer montanha abaixo, carregando inúmeros empregos de diversos setores, inclusive do automotivo. Para alguns dirigentes, a justificativa para tantas demissões só é uma: adequação ao novo cenário econômico. No entanto, o futuro, ao menos do setor automotivo aqui no Brasil, acena para uma retomada. Já se sente uma grande melhora nas vendas e na produção. E o que fazer quando o cenário voltar a melhorar se o quadro de funcionários foi reduzido? As empresas terão fôlego para produzir o que o mercado demanda?
Para alguns especialistas, as empresas que demitiram precipitadamente no início da crise vão se arrepender das decisões, porque já faltam carros no mercado. Para estes especialistas, quem dispensou sem pensar não vai conseguir retomar com agilidade e acabará ficando para trás, pois a economia atravessa ciclos e a tão falada crise uma hora vai passar. Neste ponto, as empresas que tomarem as decisões mais adequadas agora serão justamente as mais beneficiadas.
Então, olhemos a crise por outra ótica, não a do desespero, mas pelo ângulo agora da oportunidade. Você deve estar se perguntando: tem espaço para oportunidade nestes tempos? Sim. A crise gera uma situação peculiar: as diferenças entre as empresas diminuem porque o mercado se retrai e a produção enxuga. Neste cenário, todas as empresas estão lutando para sobreviver e isso não significa frear investimentos estratégicos. No entanto, a chance para sair bem da crise é investir de maneira inteligente e focada para, num cenário de retomada, ganhar mais espaço no mercado. Uma destas maneiras é investir em treinamento, em qualificação profissional.
Investir no capital humano é imprescindível para a continuidade e o sucesso das empresas. No começo do ano, a Circuit City, segunda maior cadeia dos EUA de lojas de produtos eletrônicos, chegou a um acordo com as autoridades americanas para liquidar suas operações e fechar as portas. A rede de lojas estava lutando contra o gasto menor dos consumidores e o aperto do crédito. Uma das “saídas” foi reduzir 17% de seus trabalhadores nos Estados Unidos. No entanto, a empresa optou por demitir os funcionários mais antigos. A decisão foi equivocada porque a empresa perdeu em conhecimento e qualificação e, além disso, teve que depender apenas dos que ficaram, inevitavelmente menos experientes, e sem possibilidade de investimento em treinamentos. Foi uma decisão que certamente contribuiu para que a empresa fechasse as portas.
Do que é feita uma empresa, se não de pessoas? Nenhuma companhia pode existir investindo somente em equipamentos e infra-estrutura, mesmo em época de crise. O treinamento deve ser visto como um investimento e não custo, portanto, não deve ser uma opção de corte neste momento.
Os cursos devem ser parte da rotina de uma empresa assim como pagar a conta de luz. Se são feitos somente na hora em que a empresa precisa, ela perde espaço para quem está preparado e isso pode significar ser tarde demais no mundo dos negócios. Isso porque a tecnologia avança hoje em dia em velocidade acelerada e as pessoas devem se preparar continuamente para manter sua relevância e produtividade.
Em 2008, quando o mercado estava muito aquecido, houve grande procura por treinamentos bem específicos e de curta duração. E num ano em que se tem menos dinheiro disponível, como 2009, esta tendência tende a se acentuar. No Instituto da Qualidade Automotiva, o número de participantes nos cursos focados, de curta duração, cresceu cerca de 20% em 2008, em comparação com 2007. E tudo indica que esse crescimento vai continuar.
No entanto, a idéia não é que as empresas saiam por aí investindo em treinamentos sem um planejamento prévio. Elas devem elaborar uma estratégia, enxergar lacunas dentro dos seus processos, ver quais são suas necessidades e potenciais de negócios. Além disso, “casar” corretamente o perfil do profissional com o curso a ser realizado. Já quem tem seu capital humano treinado e capacitado, pense se a demissão é, de fato, a melhor saída. Não olhe somente o presente, mas sim o passado, no que você investiu, e o futuro, no que o conhecimento destas pessoas pode fazer pela sua empresa.
Ao enxergar oportunidades como essas, empresas inteligentes agem estrategicamente e por isto ganham mais espaço no mercado. Se hoje a maioria passa por um processo de retração, quem se destaca não é quem faz igual. A isso damos o nome de “reflexo de manada”, ou seja, se faz igual, vai para o mesmo lugar. A vez é de quem faz diferente.
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